229 || Novo choque petrolífero?

A subida do preço da gasolina tem levantado muitas dúvidas que não me parecem justificadas. É certo que esta escalada galopante tende a atingir níveis preocupantes, não só por via directa (preço nas bombas de gasolina) mas também em todos os restantes bens e serviços via aumento dos custos de produção/prestação.

Em primeiro lugar, importa verificar a efectiva subida da matéria-prima (crude) nos 2 mercados de referência. Quando ainda há um ano andávamos a discutir se o barril chegaria aos 100 dólares, eis que hoje o seu preço chega aos 130 dólares. Perguntamo-nos o que terá levado a subida, sendo que a resposta não parece difícil. Ao contrário do anteriores choques petrolíferos, o problema não está na oferta, mas sim na procura, que por outro lado advém de dois factores: o forte ritmo de crescimento de algumas economias "emergentes" (China e Índia), e a forte procura especulativa. Com a economia americana em estagnação, os investimentos financeiros sairam das empresas (acções) para as matérias-primas. O preço do dólar facilita esta canalização dos investimentos, dado que permite no futuro um duplo ganho: subida do preço da matéria-prima, e valorização (previsível) da moeda. Face a esta procura especulativa, nada mais natural que sejam atingidos estes valores nos mercados, com tendência para continuarem...

Fixando-nos em Portugal, importa referir duas realidades: a primeira, onde existe um "player" que controla o mercado: Galp. A Galp antecipa-se à concorrência, e fixa o seu preço de mercado. As restantes, enquanto seguidoras, acabam por ir atrás do player dominante. É uma regra básica do mercado, que a teoria dos jogos explica facilmente. Podemos perguntar: mas a concorrência não teria vantagens em manter os seus preços? Num momento imediato poderiam ter vantagem, mas não a longo prazo. Os jogadores sabem que o pior que lhes poderia acontecer seria entrarem numa guerra de preços, que a longo prazo teria um impacto muito negativo nos seus lucros. Por isso, preferem seguir a maré, e respeitar este cartel implícito.

A segunda realidade, está no roubo permanente que o Estado faz aos bolso dos contribuintes, onde cerca de 60% do preço do combustível ao consumidor é destinado para pagar impostos. Seria esta última realidade que eu gostaria de ver o ministro da economia preocupar-se.

Quanto ao mercado acabará, como sempre, por se auto-regular.

1 comentários:

Anónimo disse...

Francisco a Ministro da Economia!