Já todos percebemos que o nosso futebol foi vendido à televisão. Isto significa que, naturalmente, os horários do futebol são determinados não em função de quem vai aos estádios (que poderemos considerar uma espécie em vias de extinção), mas sim do adepto do sofá. Deve ser das poucas actividades profissionais onde ainda não se percebeu que são os adeptos a sua razão de ser.
Ano após ano vemos jogos com estádios com 1000 pessoas e consideramos tudo muito normal. Depois ficamos espantados ao ver os jogos lá fora com estádios cheios. A razão? Quem manda lá fora são os adeptos. Os jogos são feitos em horários para a família. Porque razão temos hoje em Portugal um Domingo com dois jogos às 4 da tarde, outro às 19.15 e depois mais um às 21.15?? E como se não bastasse, amanhã, segunda-feira (dia de trabalho) espetam-nos com um jogo às 19.15, um às 20.30 (um fantástico Paços-Amadora) e para acabar bem o dia (todos sabemos que não sobrevivemos sem ver 3 jogos seguidos da nossa bwin liga) o último jogo às 21.30.
Já os estúpidos ingleses e espanhois marcam os jogos todos para a mesma hora (4 e 5 da tarde). E as televisões que se adaptem, e é se querem.
Dr. Hermínio Loureiro, não estará na altura de dizer um basta a tudo isto?
171 || Os horários da bola (2)
Publicada por
Francisco Dias
on 10/07/2007
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A bola nem sempre é redonda
5 comentários:
Viva Francisco!
É curioso que as claques em Portugal, sempre conotadas como os "maus da fita", já se batem por esta questão e têm organizado protestos conjuntos há vários anos. Em Itália, Alemanha e França já se registaram movimentos de adeptos que conseguiram influenciar os horários dos jogos.
O futebol português está transformado numa "Quinta" de Joaquim Oliveira e seus pares. É a Sporttv que, actualmente, quase paga o campeonato português. Por esta altura, senão fosse a verba dos direitos de transmissão televisiva, o nosso campeonato estaria reduzido a 4/5 clubes.
Como é óbvio, ninguém concorda com este "estado de coisas". Esta lógica de poder-controlo "espiral" sobre os clubes está errada e só existe porque se abriu a porta para que tal acontecesse.
Claro está que o diagnóstico está feito. São precisas soluções de sustentabilidade para que os clubes possam não depender da "ditadura das televisões".
Penso que, num país pequeno como Portugal e cujas preferências clubísticas se centram em apenas 3 clubes, será difícil evitar esta situação. Por isso, seria importante que os dirigentes, pelo menos, tentassem contornar a situação.
Quando um jogo dá na televisão, não faz sentido manter os preços dos bilhetes ao preço normal. "Abram-se as portas" dos estádios, através de convites à população ou preços simbólicos que motivem as pessoas a deslocarem-se aos estádios em vez de ficarem a ver na televisão. Ainda assim, acredito que mesmo à borla, alguns continuarão a preferir o conforto do sofá.
Um estádio bem composto valoriza o espectáculo. Todos o reconhecem.
Um abraço.
Viva Nuno.
A relação entre televisão e público nos estádios é de facto interessante. Creio que actualmente, quando se diz que a TV rouba publico nos estádios, o principal facto deve-se aos horários que a própria TV impõe. Por muito que seja a TV a pagar grande parte dos orçamentos dos clubes, é descabido que uma actividade ande ao reboque do espectador de sofá. Pergunto-me: a SportTV não pagaria exacatemente o mesmo com horários de jogos decentes? Tenho a certeza que sim. A realidade é que nós ficamos com os horários que sobram dos principais campeonatos europeus: começa ao início da tarde com o Italiano, segue-se o Inglês, o Espanhol e nas sobras... o português.
Quando se marca um Boavista-Belenenses para as 9 da noite de segunda-feira (no Inverno note-se), quem é suposto que vá aos estádios? Algum adeptos do Belenenses terá hipótese de se deslocar para ver o jogo?
Acontece que a nossa gestão desportiva continua amadora a todos os níveis. Os presidentes dos clubes (que de uma vez por todas devem deixar a gestão para gestores profissionais) preocupam-se, por ventura com razão, em ter dinheiro para pagar os salários dos jogadores e treinadores. Há pouco público no estádio? O que é que isso interessa? Desde que a bola entre, tudo vai bem no nosso futebol.
É a triste realidade da nossa liga.
PS: Só uma nota adicional. Quando escrevi este post, tinha acabado de dar uma volta a pé, e deparei-me com um pescador a ouvir rádio. De repente, lembrei-me com nostalgia dos domingos de futebol, onde no estádio todos estavam de ouvidos postos nos campos dos rivais. Até com isso esta espécie de organização de futebol terminou, dado que, obviamente, as principais rádios deixaram de ter as tardes desportivas.
Um abraço.
Meu amigo Francisco
e já agora Nuno Martins.
Nem sim, nem não, antes pelo contrário.
Algumas considerações.
1. Como dizes Francisco, cada vez mais se vê menos gente nos estádios. E muito sinceramente não é por causa da TV (ou pelo menos só por sua causa). Entendo, como refere o Nuno, que a questão deva passar pelo preço dos bilhetes (elevados para o nosso nível de vida - pelo menos na generalidade) e por cativar espectadores. E depois, meus amigos: o futebol é fraquiiiiiiiinhooooooo. Quem vai o Teatro Aveirense ver um espectáculo sem qualidade tem vontade de lá voltar? Dúvido.
2. Se nos casos que referes Francisco, em pleno Inverno, com a qualidade do nosso futebol, dos nossos estádios e da própria envolvente, não será preferível ter o jogo na TV e ganhar por aí a receita perdida pela ausência de espectadores?! A vida custa a todos.
3. Horários. Em Espanha, amigo Francisco, joga-se a horas e dias diferentes também (por isso é que também vês alguns jogos de lá na TV). Em Inglaterra, por exemplo ao Sábado, até à hora em que estás a almoçar (ou melhor a levantar - aproveita enquanto podes) há jogos da Premier. Portanto, também não é por aí.
É uma questão de cultura, de valores.
Mas concordo convosco que é triste, num país como o nosso, passarmos a vida dependentes de monopólios. É no desporto, na energia, etc.
Abraços aos dois
Viva Miguel,
Obrigado pelo pertinente comentário. Tocaste em duas questões interessantes: o futebol é fraquinho. Põe fraquinho nisso. Há jogos que onde as pessoas que pagam deviam ser indemnizadas por ver aquilo. Não percebo como gente que passa a vida a jogar à bola consegue jogar tão mal. Acho que consigo fazer peladinhas com os meus amigos mais interessantes que alguns jogos da nossa liga.
Em relação à questão cultural, igualmente acertado. Os jogos de manhã em Inglaterra fazem parte da cultura. Mas porque desde sempre que assim o é. Vejamos o caso português. Basta ver um Domingo Desportivo de há uns anos atrás, e ver como nos estádios velhos os jogos estavam cheios! Acontece que o futebol era as 4 da tarde. O adepto do futebol assim se habituou. E o basket era as 6 (propositadamente para apanhar o publico que saia do futebol - grande romaria para o Alboi). A partir do momento que é a TV e não o publico que manda, este acaba naturalmente por se afastar do "espetáculo".
Um abraço.
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