272 || Philips deixa Ovar

untitled A Philips anunciou a sua saída de Portugal consumada com o encerramento da unidade fabril em Ovar, que será transferida para a China. Tratam-se de más notícias para o país, em particular para os níveis de desemprego que tendem a subir para valores deveras preocupantes. Infelizmente receio que esta seja uma vaga que esteja apenas no seu início. Li a notícia na edição de hoje do Diário de Aveiro, que juntava a já tradicional posição do PCP que aproveita como ninguém estas alturas para fazer a sua política. Das duas observações que eram feitas, uma mostra-se completamente ridícula, enquanto outra tem a sua razão de ser. Em primeiro lugar, o PCP não percebe porque uma unidade fabril encerra quando supostamente (ainda) não dá prejuízo. Como se uma empresa precisasse de esperar por resultados negativos para, depois sim, poder tomar uma decisão deste tipo. Naturalmente que num mundo altamente concorrencial as empresas são obrigadas a analisar as suas posições antes que seja tarde demais. Por isso mesmo a Philips opta por um país que oferece mão-de-obra muito mais barata, mais acesso a tecnologia, eventuais cargas fiscais mais reduzidas (desconheço o sistema fiscal Chinês pelo que se trata de uma especulação) podendo portanto optimizar o seu processo produtivo, oferecendo um produto a um preço final mais competitivo. Esta realidade o PCP ainda não percebeu.

Por outro lado, o PCP toca num aspecto interessante, que é a análise aos benefícios que são dados para as empresas se virem instalar no nosso país. Tem até aqui existido um mito que consiste num eventual poder que se atribui aos governos em influenciar as decisões sobre os países onde as empresas se vão fixar. Trata-se de algo que não corresponde à realidade. As empresas fixam-se em função das suas estratégias e do contributo que o país pode dar à empresa, e só em opções muito similares os governos poderão ter algum poder em captar os investimentos. Por exemplo, analisando o caso da Philips, e sendo o seu objectivo a redução dos seus custos de produção, por muito que qualquer governo queira é impossível oferecer melhores condições do que aquelas que são oferecidas pelo mercado chinês. Podemos sim trabalhar nos aspectos estruturais da nossa economia como sejam a qualificação da mão-de-obra, a eficiência do sistema de justiça ou a redução de megalómano peso do Estado na nossa economia. Aí sim teremos reais condições para captar o investimento que realmente nos interessa. Até lá, tratam-se de números de ilusionismo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Na minha opinião a posição do PCP não é de nada ridícula, antes se complementam:

a) A empresa recebe avultadas quantias como incentivo a icar na respectiva zona industrial e assim gerar emprego+todas as consequências de produção económica que vêm por arrasto numa empresa do sector secundário;

b) a empresa deslocaliza-se porque não dá lucros suficientes. O PCP não diz que a empresa está a falir, passo a citar: "estamos perante uma empresa que não enfrenta quaisquer dificuldades, antes assume que vai deslocalizar a sua produção para ganhar ainda mais".

A questão é: não é que o PCP não tenha percebido que uma empresa encerra antes de começar a dar prejuízo; a questão é que uma empresa que reebeu tantos donativos tem de saber que tem responsabilidades acrescidas por ter reebido esses mesmos dinheiros, nomeadamente a não delocalização e a gestão responsável da mesma, sob pena de ter um impacto negativo na economia local. O que, na lógica do PCP, não aconteceu.

Já não falando da Philips especificamente, mas falando de muitas outras empresas que estão a fechar, é bom notar que muitas se dão por gestão descuidada ou especulativa dos gestores que têm "as costas quentes", ao contrário dos respectivos trabalhadores. Por isso é bom não embarcar na teoria do "está a dar prejuízo, o que é que querem que façamos agora?" com demasiada facilidade, porque é precisamente isso que o PCP critica: a gestão especulativa, que quando corre mal, coloca em sério risco os postos de trabalho dos trabalhadores, não o gestores que passam para outra com apenas uma pequena machadada na carreira... e nesse sentido, estas críticas do PCP fazem todo o sentido.

Francisco Dias disse...

Caro Nuno,

Obrigado pelo comentário. No essencial estamos de acordo. Quanto à responsabilidade social que fala, em particular a não deslocalização, pergunto-me se não caberá aos governos tomarem essas precauções na altura de receber tais "donativos". Em relação à gestão responsável, parece-me tratar-se de um "sound bite" recorrente. Como se um gestor não tenha também interesse em segurar o seu posto de trabalho.

É lógico que há muitos gestores incompetentes, da mesma forma que há muitos trabalhadores que só o são na teoria. Neste caso nem se trata de má gestão, uma vez que a empresa não dá prejuízo. Trata-se de uma decisão superior, que vê na deslocalização uma forma de poupar muitos milhões de euros. E quanto a isso, por muito boa que seja a gestão da unidade industrial, não é possível demonstrar que podemos ser mais competitivos (em termos de custo) do que num país como a China.